Com certeza, OG Kush é um dos “big names” da indústria da cannabis, uma cepa com qualidades muito apreciadas que serviu pra criar uma grande quantidade de variedades que hoje circulam no mercado. A OG Kush causou furor entre cultivadores e usuários de todo o planeta por seu sabor intenso e exquisito. Por isso, e por seu poderoso efeito, foi durante anos a variedade predileta de artistas famosos da Costa Oeste e a mais vendida nas dispensárias. Como acontece com muitas outras lendas canábicas, devido ao quadro de ilegalidade em que essa variedade foi desenvolvida, é difícil estabelecer claramente suas origens. No entanto, a história da cannabis, apesar de seu contexto underground, foi transmitida de forma oral até chegar aos nossos dias.
Quais são as origens da OG Kush?
As origens da genética da OG Kush têm um certo toque misterioso pelas circunstâncias mencionadas anteriormente. Entretanto, a versão que mais se popularizou é que essa genética provém de um cruzamento entre uma variedade autóctone da região do Hindú Kush (um maciço montanhoso situado entre o Afeganistão e o Paquistão) e a Chemdawg. Mas… Como essa variedade Landrace do Hindú Kush chegou da Ásia até a Califórnia?
A Hippie Trail e a introdução das variedades afegãs na cultura ocidental
Pra que essa variedade do Hindú Kush chegasse até a Califórnia e se tornasse um dos parentais da famosa OG Kush, foram necessários uma série de acontecimentos que tinham mais a ver com o movimento contra-cultural Hippie do que com a ambição dos criadores de cannabis. Entre as décadas de 60 e 70, começou um fenômeno que foi batizado como “Hippie Trail” ou “Overland”, que explicamos anteriormente no capítulo 2 da História do Cannabis, e que consistiu em uma rota que muitos jovens partiram de cidades européias rumo ao sul da Ásia por terra, com destinos que incluíam principalmente algumas regiões da Índia e do Nepal.
Índicas de floração curta que mudaram as regras do jogo
Daqueles viajantes, alguns trouxeram de volta pra casa aquelas sementes das variedades de cannabis que encontraram pelo caminho. Cepas de efeito relaxante, floração curta, resinosas e com aromas distintos que supuseram um sopro de ar fresco e uma mudança de paradigma pra cultivadores e criadores americanos. E é que, naquela época, em algumas regiões isoladas da Costa Oeste, já haviam se estabelecido comunidades de cultivadores que se refugiaram em lugares inóspitos como o condado de Humboldt, onde era fácil se esconder. Esses cultivadores, que apesar da chamada “war on drugs” decidiram cultivar cannabis, enfrentavam certas dificuldades climáticas. As genéticas às quais tinham acesso provinham de climas tropicais e temperados e por isso eram sativas com longos períodos de floração. Essas variedades provinham de sementes encontradas nos cogollos de erva que entravam nos EUA contrabandeadas da Colômbia e do México; landrace tardias que não eram adequadas pro clima da região, já que as chuvas e o mau tempo arruinavam as colheitas. Assim, quando os jovens que se aventuraram a fazer a Hippie Trail introduziram essas variedades índicas de floração curta, os cultivadores começaram a cruzá-las, criando assim os primeiros híbridos: variedades que surgiram da união entre as landrace sativas centro-americanas e as índicas. Acredita-se que uma dessas cepas que vieram do Hindú Kush foi um dos parentais da OG Kush junto com a Chemdawg, outra índica renomada criada na Costa Oeste. Embora haja muitos que afirmam que o parental do Hindú Kush foi cruzado previamente com uma Landrace tailandesa, e que portanto não era 100% índica, pois as variedades autóctones da Tailândia (assim como as da Colômbia, México, Jamaica, etc.), respondem ao que foi considerado como “Sativa”.
Chemdawg, a história de uma lenda
Agora que já temos claro de onde provém parte dos genes da OG Kush, vamos explicar a história do outro parental, Chemdawg, também conhecida como Chem dog. Embora seja verdade que, como ocorre com todas as outras cepas criadas na época, é difícil verificar os fatos, a versão mais ampla é a que relataremos a seguir. Nos situamos em junho de 1991, em Deer Creek (Indiana), em um concerto do mítico grupo Grateful Dead, onde um cultivador chamado Chem compra uma onça de erva no estacionamento do concerto de um cara chamado Joe Brand. Quando Chem chega em casa depois da turnê, descobre 13 sementes entre os cogollos, lembrando que a marijuana sem semente naquela época era quase uma novidade, o habitual era encontrar algumas entre as flores preciosas. Após germinar quatro delas, descarta uma porque acaba sendo um macho e catalogou as três fêmeas restantes como “Chemdawg ‘91”, Chemdawg A (também conhecida como Chemdawg Sister) e Chemdawg B. Mais tarde, em 2001, germina algumas mais e acaba selecionando um quarto fenótipo que batiza como “Chemdawg D”. Esses são os quatro pilares dos quais surgiram inúmeras variedades que chegaram até nossos dias, lendas como Sour Diesel, Bubba Kush e a própria OG Kush.
Como foi criada a OG Kush?
É difícil afirmar quem realmente criou a OG Kush original, pois há diferentes versões da história, no entanto, a maioria concorda que envolve duas pessoas: Matt “Bubba” Berger, um cultivador da Flórida e Josh D, um breeder de Los Angeles. Segundo conta a lenda, Josh D desafiou Berger a provar que os da Flórida sabiam cultivar e criar variedades melhor do que os de Los Angeles, uma desculpa como outra qualquer pra fazer uma troca de clones e assim melhorar e diversificar sua biblioteca genética. Berger aceitou o desafio e enviou vários clones pra Los Angeles de um de seus melhores cruzamentos, a atual OG Kush, que na época ele havia batizado de “Kryptonite” ou “Krippy” por seu aroma intenso. De todos os clones que enviou, somente um sobreviveu. Segundo conta a narrativa popular, Josh D. percebeu que aquela variedade não era talvez a mais fácil de cultivar, no entanto, valia a pena o esforço, pois seu aroma e sabor eram algo realmente incomum. Por isso, ele se encarregou de preservar esse fenótipo e difundi-lo entre a comunidade de cultivadores de L.A., que ficaram fascinados pela densidade, potência e sabor de seus compactos cogollos. Pode-se dizer que Josh D. se encarregou de preservar esse clone de elite e criar escola sobre como cuidar e extrair o melhor da OG Kush. Contudo, a verdadeira apresentação da OG Kush foi uma viagem que Josh D. fez ao norte da Califórnia pra visitar seu amigo Ian. O ano era 1997 e na Área da Baía de São Francisco acontecia um pequeno concurso de cannabis. Josh D. participou da competição com sua segunda colheita de OG Kush que arrasou entre os juízes e ganhou um 10 em avaliaçãotodas as categorias. Começava uma corrida imparável na disseminação de uma variedade destinada a se tornar uma lenda. Com o passar do tempo, OG Kush deu origem a híbridos como Larry OG, Bubba Kush Pre’98, ou Purple Kush. Sem dúvida, um dos pilares da indústria moderna de cannabis.
O que significa o nome OG Kush?
Sobre o significado das siglas “OG” também se especulou muito, a realidade é que, por mais que queiramos, é impossível descobrir o que significam, embora existam várias teorias:
- Original Gangster: dado que é uma variedade que se difundiu em Los Angeles e que é considerada uma das favoritas dos paladares mais V.I.P da cidade, acredita-se que esse nome poderia ser uma homenagem à cena do Hip-Hop que ocorreu lá nos anos 90. Existe outra corrente da história que afirma que as siglas significam “Original Gangsta”, e que esse nome foi criado pelos membros do Cypress Hill.
- Organic Grown: embora essa versão possa ser a menos divulgada, poderia vir da cultura de cultivo ecológico profundamente enraizada em Humboldt, uma região onde a OG Kush se espalhou como pólvora.
- Ocean Grown: é a crença mais disseminada sobre este assunto e, como o nome indica, faria referência a que foi a variedade mais cultivada e popular da costa californiana.
- OverGrown.com: outros opinam que a verdadeira origem do nome vem de um dos sites mais populares do campo cannábico durante os anos 2000.
Qual é o sabor e aroma da OG Kush?
A qualidade das colheitas de OG Kush foi o que catapultou essa variedade à fama mundial. Seu sabor e aroma, junto com um efeito potente e um “bag appeal” cinco estrelas, fez com que essa variedade arrasasse nos dispensários. Uma variedade que não conquistou um espaço no olimpo cannábico por suas colheitas massivas, como poderia ser o caso de outras variedades como Amnesia. Na verdade, OG Kush não se destaca por oferecer uma quantidade desmesurada de flores, mas sim por alcançar padrões muito elevados de qualidade. Muitos descrevem a potência organoléptica dessa variedade como uma mistura de frutos silvestres, com um fundo terroso, notas cítricas e picantes e um sabor diesel marcado.
Quais terpenos contém OG Kush?
Graças a essa característica, OG Kush pôde transcender e mutar em muitas outras cepas às quais passou seus genes e parte de sua essência aromática. Não há dúvida de que, como essa genética, muitas outras variedades do tipo “Diesel” se tornaram a marca americana que arrasou pelo planeta, mas… o que faz com que OG Kush tenha um sabor tão especial? Efectivamente, os responsáveis, mais uma vez, são os terpenos. Em particular, a combinação dos diferentes terpenos em certas proporções que cria um aroma complexo e único. Os terpenos principais da variedade OG Kush são os seguintes:
Como os terpenos principais da OG Kush influenciam em seu efeito?
Os terpenos do cannabis não são apenas responsáveis por fornecer aroma e sabor às variedades, mas também produzem efeitos sobre nosso organismo. Essas propriedades, que em muitos casos podem ser utilizadas na área terapêutica, se potencializam e/ou combinam com as dos cannabinoides, criando assim o conhecido efeito séquito. É por esse complexo entrelaçamento de sinergias entre as diferentes moléculas presentes no cannabis que é tão difícil replicar suas propriedades. Quando se tentou sintetizar os cannabinoides, por exemplo, descobriu-se que o efeito desses compostos feitos em laboratório não era tão eficaz quanto a resina da planta de cannabis. Além do potencial terapêutico dos terpenos, também se descobriu recentemente que essas moléculas aromáticas são as responsáveis pelos conhecidos efeitos Sativa/Indica das variedades. Ou seja, dependendo da composição do perfil de terpenos de cada variedade, ela terá um efeito mais relaxante ou mais estimulante.
Quais são as propriedades dos terpenos principais da OG Kush?
Os três terpenos que se encontram em maior percentual na variedade OG Kush são Cariofileno, Limoneno, Mirceno, Linalool e Pineno. Vamos ver quais propriedades cada um desses terpenos oferece para nosso organismo:
- Cariofileno: possui propriedades anti-inflamatórias, pois interfere na sinalização das prostaglandinas. Além disso, tem a capacidade de imitar a ação dos cannabinoides, pois interage com nosso sistema endocanabinoide, especificamente com os receptores CB2. Também possui propriedades analgésicas, antifúngicas, anticoagulantes e pode contribuir para aliviar a ansiedade e a depressão.
- Limoneno: esse terpeno possui propriedades estimulantes e pode ser eficaz para melhorar o humor. Além disso, é antifúngico e anti-inflamatório, e alguns estudos indicam que pode ser eficaz para aliviar a ansiedade.
- Mirceno: esse terpeno é conhecido por seus efeitos relaxantes e sedativos, um composto que pode ajudar a combater a insônia e o estresse. Além disso, atua como relaxante muscular e anti-inflamatório e contribui para uma maior absorção dos cannabinoides.
- Linalool: assim como o mirceno, o Linalool também possui efeitos calmantes e sedativos. Diferentes estudos apontam que poderia ser um ansiolítico eficaz e também foram demonstrados seus efeitos anti-inflamatórios e analgésicos. Além disso, é um bom antibacteriano.
- Pineno: o pineno é um eficaz analgésico, broncodilatador, antibacteriano e anti-inflamatório.
Agora que você conhece mais sobre os terpenos que estão em maior concentração na variedade OG Kush, talvez compreenda melhor seus efeitos e seu aroma e sabor exquisitos. No entanto, é difícil definir que tipo de efeito uma variedade determinada terá sobre cada pessoa, já que isso não depende apenas da composição de cannabinoides e terpenos da genética, mas também do organismo de cada indivíduo. Há pessoas que definem a psicoatividade da OG Kush como um efeitototalmente relaxante e noturno, enquanto outras notam como uma sensação mais cerebral, a meio caminho entre dois mundos. Seja como for, o que está claro é que se trata de uma variedade excepcional que ocupa (e possivelmente ocupará por anos), um lugar privilegiado entre os Best Seller do mercado canábico. Tem alguma dúvida? Quer compartilhar sua opinião sobre essa variedade? Deixe seu comentário! Até a próxima, Cali Terpenes