Com certeza, ao longo da vida, você já ouviu falar ou conheceu alguém que sofre de epilepsia, mas sabe o que é? Quais tratamentos inovadores relacionados à cannabis existem?
CBD e epilepsia
A epilepsia é uma doença que afeta o sistema nervoso, provocando atividade elétrica de forma anormal no córtex cerebral. Esse fato causa os ataques epilépticos, que são repentinos e caracterizados pela perda de consciência e intensas convulsões. Aproximadamente 1,5% da população sofre de epilepsia e um terço desses pacientes tem o que é denominado “epilepsia refratária”, ou seja, que não responde aos tratamentos habituais da medicina convencional. A síndrome de Dravet é um tipo de epilepsia refratária muito severa que geralmente se manifesta a partir do primeiro ano de vida e normalmente vem acompanhada de múltiplos ataques epilépticos por dia (dezenas e até mais de cem), que acabam por interromper o desenvolvimento cognitivo da criança. Devido aos problemas de saúde que isso gera, muitos desses pacientes não chegam à idade adulta.
CBD para reduzir os ataques epilépticos
Vários estudos e ensaios clínicos têm testado a eficácia do CBD para tratar os ataques epilépticos e há muitos pacientes ao redor do mundo que, com sua experiência, validam sua eficácia. Em um ensaio clínico realizado com dois grupos de pacientes (administrando CBD a um grupo e um placebo a outro), concluiu-se que, de fato, o canabidiol reduz significativamente os ataques em pacientes que não apresentam uma resposta positiva aos medicamentos convencionais para a epilepsia. Nesse estudo, a frequência média de ataques convulsivos por mês caiu de 12,4 para 5,9 com canabidiol, em comparação com uma redução de 14,9 para 14,1 com placebo.
Charlotte Fiji, um caso que marcou um antes e um depois
Há menos de uma década, a história de Charlotte Fiji, uma menina americana com síndrome de Dravet (um tipo de epilepsia refratária muito agressiva), a quem o CBD salvou a vida, deu a volta ao mundo e colocou este canabinoide no foco da comunidade científica e médica. E graças a este canabinoide, Charlotte passou de ter 300 ataques epilépticos semanais para apenas 3 por mês. Uma reportagem na televisão CNN, conduzida pelo Dr. Sanjay Gupta, fez com que a história da pequena circulasse pelo mundo e todos conhecessem a decisão que seus pais, um casal com tendência conservadora do Colorado, tomaram ao decidir experimentar o tratamento com CBD. Infelizmente, Charlotte morreu em 2020, acreditava-se que devido ao COVID-19. Seu legado, no entanto, permanecerá para sempre, pois graças a ela muitos avanços legais, científicos e médicos foram alcançados no tratamento da síndrome de Dravet com CBD e hoje milhares de pacientes se beneficiam disso.
CBD para melhorar a nível cognitivo
Uma das consequências mais comuns e debilitantes da epilepsia infantil é o deterioro cognitivo. Esse deterioro tem sua origem no dano cerebral que as convulsões provocam e nos efeitos cognitivos negativos dos medicamentos anticonvulsivantes e dos transtornos do humor. Ao contrário da maioria dos medicamentos para a epilepsia, foi demonstrado que o CBD possui propriedades neuroprotetoras, anti-inflamatórias, antioxidantes e neurogênicas. Essas características, somadas à experiência dos usuários, sugerem que o uso de CBD poderia levar a efeitos positivos na cognição independentemente de sua ação anticonvulsivante. Por isso, tornou-se uma ferramenta importante para o tratamento dessa doença, uma vez que as crianças que sofrem da síndrome de Dravet têm suas capacidades cognitivas afetadas.
Terpenos para o tratamento da epilepsia
À medida que a regulamentação da cannabis avança globalmente, há cada vez mais acesso à informação sobre seus compostos, e mais estudos estão sendo realizados para entender quais propriedades e usos esta planta oferece. Graças a isso, sabemos que além do potencial dos canabinoides, também existem outras moléculas como os terpenos, que fazem parte da composição da cannabis e que também possuem propriedades terapêuticas muito interessantes. Os terpenos, além de serem os responsáveis pelo aroma e sabor das variedades de cannabis, têm demonstrado ter múltiplos benefícios para a saúde. O Limoneno, por exemplo, é um antifúngico natural, ou o Cariofileno, que atua como analgésico. Existem vários estudos que indicam a capacidade de alguns terpenos, como o Linalool, para atuar como anticonvulsivo, por isso seria interessante que as capacidades dos terpenos para agir como coadjuvantes com o CBD no tratamento da epilepsia infantil fossem estudadas. Embora o linalol seja um bom candidato para sua avaliação como fármaco antiepiléptico, também se tem estudado que alguns óleos essenciais (que contêm terpenos), como os de sálvia, hisopo, alecrim, cânfora, poejo, eucalipto, cedro, tuia e funcho, podem causar ataques epilépticos porque contêm tujona, 1,8-cineol, cânfora ou pinocanfona, identificados como agentes convulsivos. Embora mais pesquisas sejam necessárias para confirmar seus mecanismos de ação, parece que as propriedades convulsivas ou anticonvulsivas dos óleos essenciais se devem em grande medida à sua capacidade de modular o sistema GABAérgico de neurotransmissão e à capacidade de alterar as correntes iônicas através de canais iônicos. Por isso, é necessário mais pesquisa científica sobre o potencial dos terpenos para o tratamento dessa doença, uma vez que a dose, o isolamento dos terpenos adequados e o método de administração podem conter a chave para melhorar a eficácia dos tratamentos atuais.
Terpenos de cannabis para melhorar a absorção do CBD
Os terpenos entram no nosso organismo através de diferentes vias que podem ser a mucosa nasal ou pulmonar ao serem inalados (esta é a base da aromaterapia), ou também podem ser consumidos por via oral e até mesmo epidérmica (sendo esta a via de menor ação). Como se trata de compostos orgânicos solúveis em gordura, os terpenos atravessam a barreira hematoencefálica, uma barreira que isola o cérebro. Através dessa ação, acredita-se que alguns terpenos como o Mirceno não apenas podem exercer certos efeitos no organismo, mas também ampliar os efeitos de outros compostos como os canabinoides, pois melhoram sua absorção. Alguns usuários relataram um aumento dos efeitos notratamento com canabinoides como o CBD quando foram administrados em conjunto com os terpenos. Alguns têm utilizado os terpenos como forma de romper a tolerância que um tratamento continuado com canabinoides gerou, ou seja, com a mesma dose de canabinoides em conjunto com os terpenos consegue-se obter o mesmo efeito inicial que ao começar o tratamento. Embora já seja amplamente conhecida essa propriedade das moléculas da cannabis como “efeito séquito”, a possibilidade de investigar mais sobre os mecanismos de interação dos compostos da cannabis com o sistema endocanabinoide do nosso corpo continua sendo uma matéria pendente. Um campo no qual ainda há muito a explorar e que promete ter várias aplicações no âmbito medicinal. O que achou deste artigo? Conhecia essa doença e o uso do CBD para aliviar seus sintomas? Deixe seu comentário para que a comunidade conheça sua opinião. Até a próxima! Cali Terpenes